Entidades patronais estão ativamente à procura de profissionais de tecnologia e transformação digital. Negócios que nunca pararam são os mais dinâmicos no recrutamento
Empresas queixam-se da dificuldade em encontrar perfis qualificados para a resposta digital
© Ina FASSBENDER/AFP
O país está a viver a duas velocidades e o
mercado de trabalho não passa ao lado dessa realidade. Em menos de um ano, as
necessidades de recrutamento das empresas portuguesas dispararam nas áreas da
tecnologia e transformação digital, do e-commerce, da saúde e da logística. Em
contraponto, setores como a restauração, hotelaria e turismo, que viviam tempos
de euforia, desapareceram dos anúncios de emprego. Esta realidade dual está a
originar um aumento de profissionais disponíveis e a realçar a escassez de
talentos nos perfis mais procurados, mas também a impactar a evolução dos
salários.
A pandemia veio expor novas necessidades de capital
humano num tecido empresarial ainda deficitário no que toca à transformação
digital, automação de processos ou cibersegurança, e as empresas estão a
procurar colmatar essas lacunas. As empresas de recrutamento são unânimes em
destacar a elevada apetência das empresas por profissionais nas áreas
tecnológicas.
Segundo Pedro Amorim, diretor da Experis, regista-se
"uma clara procura" por perfis tecnológicos, que tem excedido a
oferta disponível. Este fenómeno de escassez de talentos, que já se vinha a
sentir nos últimos anos, tornou-se também um desafio para os recrutadores até
porque a procura alargou-se a indústrias mais tradicionais, como é exemplo a
farmacêutica, que estão a investir na contratação de profissionais com skills
em business inteligence, data science ou machine learning.
Já os processos de recrutamento da Manpower Portugal
estão atualmente muito centrados em setores que não pararam durante a pandemia
e viram inclusive as suas necessidades de pessoal aumentar, diz Vítor Antunes,
diretor da empresa. Na saúde, nota-se uma procura por médicos, enfermeiros,
técnicos auxiliares. Já na área da distribuição e logística, as empresas querem
contratar motoristas, distribuidores, profissionais de apoio ao cliente. No retalho
e indústria alimentar, são precisos operadores de armazém e de máquinas, e
técnicos de produção.
Vanda Santos, diretora da Adecco, revela também que são
os setores de retalho alimentar, logística e distribuição, e alguma indústria,
como a têxtil, que mais dinâmicos se apresentam nos processos de contratação. A
responsável sublinha que as restrições impostas pela pandemia potenciaram o
crescimento exponencial do e-commerce, obrigando as empresas a adaptar os seus
modelos operativos e recursos humanos à nova realidade.
Ainda assim, o dinamismo da abertura de processos de
recrutamento acompanha a evolução da crise pandémica. Segundo Nuno Troni,
diretor da Randstad Portugal, "as empresas continuam a contratar, embora o
façam apenas para funções que consideram estritamente necessárias", pois
"os índices de confiança são ainda baixos", levando a que a navegação
seja feita à vista.
Saída do
país
A crise financeira que se abateu no país a partir de
2008 levou a que muitos profissionais fossem procurar emprego além-fronteiras e
é de esperar que o mesmo suceda agora, alerta a Robert Walters. Segundo
adianta, já há muitas empresas que sentem dificuldade em encontrar perfis
qualificados, principalmente nas áreas da tecnologia e do digital, mas também
em engenharia e operações, e recursos humanos. E os empregadores estão cada vez
mais exigentes. Segundo Joana Bacelar, manager da Michael Page, querem
profissionais com foco e orientação para o cliente, domínio de ferramentas
digitais e de idiomas, sendo o inglês basilar, e soft skills como dinamismo,
facilidade de resolução de problemas e de identificação de soluções, gosto pelo
trabalho de equipa.
Vítor Antunes alerta que a pandemia conduziu a um
aumento da procura por competências nas áreas da transformação digital, ciber
segurança, saúde, logística e transporte, mas isso traduziu-se "num
agravamento do desencontro entre as necessidades das empresas e a
disponibilidade de competências no mercado, agravando a escassez de talento já
existente". Para o diretor da Manpower, "ajudar as pessoas impactadas
pela destruição de emprego nos seus esforços de requalificação que lhes
permitam ter acesso às funções com maior procura é o desafio desta
década". Como frisa, "esta questão era importante antes da pandemia e
é agora ainda mais crítica".
Prudência
nos salários
A evolução dos salários depende em muito da linha da
oferta e da procura e, mesmo nesta altura de pandemia, a regra mantém-se. Vanda
Santos, da Adecco, acredita que "a palavra de ordem será manutenção dos
patamares salariais, as empresas vão ser prudentes nos aumentos, mas também não
se vislumbram reduções". Para Nuno Troni, da Randstad, ainda é cedo para
se perceber o real impacto da crise nos salários, que só se deve percecionar
com maior clareza no final do ano, mas admite que é a duração da crise que vai
impactar as decisões das empresas nessa matérial. Agora, recorda, Portugal está
no primeiro lugar na lista de países que consideram que a estabilidade laboral
foi abalada (estudo da Randstad), o que significa que "as empresas vão ter
de ser competitivas nas suas propostas, especialmente para profissionais que
estejam a trabalhar".
Já Pedro Amorim, da Experis, destaca que nos setores
onde escasseia talento, como o tecnológico, os empregadores vão estar muito
focados na retenção e irão apostar em aumentos salariais e políticas de
benefícios. A Robert Walters sublinha que "é muito difícil atrair novos
talentos de topo sem oferecer um pacote salarial competitivo e isso resulta em
aumentos médios de 5 a 10%". No entanto, e segundo os seus dados internos,
a maioria das empresas irá optar neste ano por incrementos salariais entre 1 e
5%.
Fonte: Diário de Notícias
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/07-mar-2021/empresas-desesperam-por-trabalhadores-qualificados-13427535.html
Mérito de Reportagem: Sónia Santos Pereira
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