A aceleração da transformação digital tem sido uma das
prinicipais consequências da pandemia de Covid-19 ao nível das empresas,
contribuindo para a escassez de profissionais das áreas tecnológicas. Segundo
Fernando Rodrigues, managing director da Axians, surge a necessidade de formar
pessoas para garantir que existem as competências necessárias para dar resposta
a esta nova realidade – especialmente num setor globalizado e em que a procura
pelos melhores talentos não se faz apenas à escala nacional.
«Há também um desequilíbrio do poder a favor do candidato, em
contraste com o que acontecia até há bem pouco tempo. Esta mudança de paradigma
obriga a uma necessidade de rápida mudança por parte dos empregadores neste
setor», adianta o responsável.
Em entrevista à Executive Digeste, Fernando Rodrigues sublinha
que já não basta ter salários competitivos: é fundamental ter uma proposta de
valor diferenciadora e que faça sentido para os potenciais colaboradores. E o
mesmo aplica-se aos profissionais que já fazem parte da equipa, promovendo uma
ambiente cultural positivo e de base humana – responsabilidade que deve ser de
toda a empresa e não somente do departamento de recursos humanos, razão pela
qual a Axians investe no desenvolvimento de uma liderança de proximidade e
focada no crescimento das pessoas.
Acompanhe a entrevista na íntegra:
Como
descrevem o mercado de trabalho no vosso setor, em Portugal? De que forma tem
evoluído?
No setor do IT, e nas suas categorias, o mercado de trabalho
está muito dinâmico e em franco crescimento. Por um lado, no curto prazo,
caracteriza-se por ter pouca oferta de profissionais, face à crescente procura,
em consequência das inúmeras iniciativas de transformação digital que se
registam em todos os setores de atividade. E esse movimento intensificou-se com
a crise pandémica que estamos a viver. Por outro lado, o teletrabalho tornou-se
uma realidade efetiva, contribuindo de forma evidente para que o mercado global
seja hoje a realidade para os profissionais neste setor, ou seja, a
concorrência por estes talentos joga-se no mercado mundial, introduzindo um
fator de pressão adicional.
Essa falta de talento induz à necessidade do que hoje se designa
por re-skilling ou up-skilling, ou seja, à necessidade de formação de pessoas
com formação base em áreas completamente diferentes ou formação mais focada em
disciplinas especializadas de pessoas com formação de base tecnológica. Há um
conjunto alargado de profissionais de outros setores que procura oportunidades
de evolução de carreira no setor de IT e isso é bom paras os players desta
área.
Quais são
as principais dificuldades na captação de talento?
Essencialmente a falta de profissionais. Atualmente o recrutamento
disputa-se a nível global e isso traduz uma pressão que se exerce
essencialmente sobre o salário. Procuramos novas fontes de recrutamento
(internacionais, criação de centros de
competências remotos, maior foco em programas de academia).
A pandemia obrigou a uma mudança drástica nos processos de
recrutamento, em particular no momento da entrevista, que agora é feito em modo
exclusivamente remoto. Sendo uma realidade nova para candidatos e recruiters,
há um desafio adicional para aferir as competências mais emocionais e o
alinhamento com a cultura.
Há também um desequilíbrio do poder a favor do candidato, em
contraste com o que acontecia até há bem pouco tempo. Esta mudança de paradigma
obriga a uma necessidade de rápida mudança por parte dos empregadores neste
setor. Mais do que apenas pacotes salariais competitivos, é fundamental ter um
Employee Value Proposition que seja diferenciador da concorrência e que faça
sentido para os potenciais colaboradores. Sendo uma marca nova no mercado, a
Axians tem investido bastante nesta vertente.
E em termos
de retenção?
Num mercado tão dinâmico, a retenção de talento é um desafio
permanente. E deve ser missão de toda a organização e não apenas do
departamento de RH/Pessoas. Para além da necessária competitividade salarial, é
fundamental equilibrar os restantes aspetos da motivação. O ambiente cultural
positivo e de base humana, sentido de propósito organizacional, o potencial de
desenvolvimento profissional, a dinâmica formativa, o reconhecimento, espaço de
inovação, equilíbrio entre esfera pessoal e profissional, respeito pela
diferença/diversidade, lideranças que inspirem confiança, etc., são aspetos
essenciais para que os colaboradores vivam em pleno a sua experiência
profissional numa organização. Trabalhamos de forma efetiva e intencional todos
estes aspetos, junto de todos os níveis de liderança.
Na vossa
empresa, que estratégias estão a desenvolver para combater estas dificuldades?
A Axians tem uma promessa muito ambiciosa na assinatura de
marca. “The best of ICT with a Human Touch” é um compromisso diferenciado, que
incide sobre a tecnologia de vanguarda proposta, mas principalmente sobre o
nível de engagement reconhecido com clientes, parceiros e colaboradores. E isso
deriva essencialmente das estratégias e programas que colocamos em prática com
um objetivo, entre vários: desenvolver o Employee Value Proposition, na
dimensão essencialmente humana da nossa atividade. Podemos enumerar algumas:
– Implementação de modelo de trabalho flexível e outras práticas
que estimulem o bem estar (giving to family, app de saúde, apoio psicológico,
etc.);
– Criação de uma cultura de experimentação, com foco em colaboração, partilha e
entreajuda;
– Práticas de desenvolvimento de pessoas: planos de desenvolvimento individual
que estimulem o crescimento diário, não só técnico, mas também emocional;
– Gestão da performance/desempenho e do crescimento com base no feedback
contínuo;
– Programa de mentoring como acelerador do crescimento;
– Investimento contínuo em desenvolver líderes para uma liderança de
proximidade e focada no crescimento das pessoas;
– Implementação de um processo de recrutamento remoto que permita demonstrar
mais da cultura da organização;
– Aposta em upskilling;
– Survey de clima organizacional;
– Criação de dinâmicas de convívio remotas (gaming, cafés virtuais, à conversa
com.., etc.);
– Entrevistas de saída, focadas na promoção de melhoria contínua.
E que
resultados estão a ter?
Os resultados são muito positivos. O turnover é bastante baixo,
considerando o setor em que estamos. O feedback que recolhemos das pessoas
reflete que estamos no caminho certo. Há sempre áreas em que podemos melhorar,
nem que seja porque estamos num mercado com uma dinâmica crescente e há sempre
necessidade de ajustar algum aspeto que estava bem, mas que, entretanto, ficou
desatualizado.
Os resultados do negócio e a qualidade da relação com os
clientes e com as nossas pessoas são em grande parte reflexo da cultura que
temos. Mesmo em plena pandemia, registámos indicadores muito positivos, seja do
ponto de vista de resultados, retenção/satisfação de clientes,
retenção/satisfação de colaboradores e continuidade de projetos.
Notam
diferenças naquilo que os colaboradores procuram numa oferta de emprego? Quais?
Procuram projetos e missões que lhes deem sentido ao que fazem.
Onde possam crescer pessoal e profissionalmente, onde tenham segurança e
estabilidade emocional, para que se consigam realizar como pessoas.
Culturalmente procuram ambientes que permitam equilíbrio entre a
vida pessoal e profissional, sentido de propósito organizacional e empresas que
sejam sustentáveis e responsáveis, quer a nível ambiental, social e económico.
Esse é o nosso grande desafio enquanto líderes, contribuir
diariamente e de forma consistente para que a Axians seja esse espaço de
realização para as nossas 1200 pessoas, que esperamos serem perto de 1500 no
final de 2021.
Fonte: Executive Digest - SAPO
https://executivedigest.sapo.pt/faltam-profissionais-de-it-em-portugal-concorrencia-por-estes-talentos-joga-se-no-mercado-mundial/
Mérito de Reportagem: Filipa Almeida
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